O que há no CMK Madrid, Espanha
dez 20, 2024
Geshe Kelsang Gyatso
Este livro imensamente prático traça um caminho completo do desenvolvimento espiritual.
Na forma de um comentário a um dos ensinamentos mais eternos e amados do Budismo, Oito Versos para o Treino da Mente pelo grande Bodhisattva Tibetano Langri Tangpa, ele explica como transformar cada momento de nossa vida em um passo no caminho para a paz interior e, em particular, como transformar todas as dificuldades da vida em experiências verdadeiramente libertadoras.
Geshe Kelsang mostra como todos os nossos problemas se originam de uma tendência profundamente enraizada para nos apreciar mais que aos outros. Ele explica métodos simples para erradicar esta perspectiva absurda e substituí-la por um genuíno desejo de apreciar os outros – a fonte de toda a virtude e felicidade neste mundo.
“… induz calma e compaixão.” — THE NEW HUMANITY
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Contemplar a bondade dos outros
Todos os seres vivos merecem ser apreciados pela imensa bondade que têm nos mostrado. Toda a nossa felicidade, temporária e última, surge pela bondade deles. Até mesmo o nosso corpo é o resultado da bondade dos outros. Não o trouxemos conosco da nossa vida anterior – ele se desenvolveu a partir da união do espermatozoide do nosso pai e do óvulo da nossa mãe.
Depois que fomos concebidos, nossa mãe bondosamente permitiu que ficássemos em seu ventre, nutrindo nosso corpo com seu sangue e calor, suportou imenso desconforto e, por fim, enfrentou a dolorosa provação do parto para o nosso benefício.
Viemos a este mundo nus e de mãos vazias, mas imediatamente nos deram um lar, comida, roupas e tudo de que precisávamos. Enquanto éramos um bebê indefeso, nossa mãe nos protegeu de perigos, alimentou-nos, limpou-nos e amou-nos. Sem a sua bondade, hoje não estaríamos vivos.
Por receber constantemente alimentos, bebidas e cuidados, nosso corpo se desenvolveu gradualmente – de um pequeno e indefeso bebê para o corpo que temos hoje. Todos esses cuidados nos foram proporcionados, direta ou indiretamente, por incontáveis seres vivos. Cada célula do nosso corpo é, portanto, o resultado da bondade dos outros.
Mesmo aqueles que nunca conheceram suas próprias mães receberam alimentos e cuidados amorosos de outras pessoas. O simples fato de estarmos vivos hoje é um testemunho da grande bondade dos outros.
É porque temos este corpo atual com faculdades humanas que somos capazes de desfrutar de todos os prazeres e oportunidades da vida humana. Até mesmo simples prazeres, como dar um passeio ou contemplar um belo pôr do sol, podem ser vistos como o resultado da bondade de inumeráveis seres vivos. Nossos talentos e habilidades, tudo provém da bondade dos outros; tivemos que ser ensinados a comer, andar, falar, ler e escrever.
Mesmo a língua que falamos não foi inventada por nós mesmos, mas é o produto de muitas gerações. Sem ela, não poderíamos nos comunicar com os outros nem compartilhar de suas ideias. Não poderíamos ler este livro, aprender Dharma ou até mesmo pensar com clareza. Todos os recursos e instalações que damos como certos e garantidos – como casas, carros, estradas, lojas, escolas, hospitais e cinemas – são produzidos somente através da bondade dos outros. Quando viajamos de ônibus ou de carro, tomamos as estradas como se já estivessem ali, prontas, desde sempre, mas muitas pessoas trabalharam arduamente para construí-las e torná-las seguras para o nosso uso.
O fato de que algumas das pessoas que nos ajudam talvez não tenham a intenção de fazê-lo é irrelevante. Recebemos benefício de suas ações; portanto, do nosso ponto de vista, isso é bondade. Em vez de nos focarmos em suas motivações, que, de qualquer modo, não conhecemos, devemos nos concentrar no benefício prático que recebemos.
Todos os que contribuem de algum modo para nossa felicidade e bem-estar são merecedores da nossa gratidão e respeito. Se tivéssemos que restituir tudo o que os outros têm dado a nós, não nos restaria absolutamente nada.
Podemos argumentar que não recebemos as coisas gratuitamente, mas que temos que trabalhar por elas. Quando vamos às compras, temos de pagar, e quando comemos num restaurante, temos de pagar a conta. Talvez tenhamos um carro, mas tivemos de comprar o carro e, agora, temos de pagar pelo combustível, impostos e seguro. Ninguém nos dá nada de graça. Porém, de onde tiramos esse dinheiro? É verdade que, em geral, temos de trabalhar para ganhar nosso dinheiro, mas são os outros que nos empregam ou compram nossas mercadorias; portanto, indiretamente, são eles que nos proveem com dinheiro.
Além disso, a razão pela qual somos capazes de fazer um determinado tipo de trabalho é que recebemos das outras pessoas a educação ou treinamento necessários. Para onde quer que olhemos, encontramos somente a bondade dos outros. Estamos todos interconectados numa rede de bondade da qual é impossível nos separar. Tudo que temos e tudo do que desfrutamos, inclusive nossa própria vida, deve-se à bondade dos outros. De fato, toda a felicidade que existe no mundo surge como resultado da bondade dos outros.
Nosso desenvolvimento espiritual e a felicidade pura da plena iluminação também dependem da bondade dos seres vivos. Centros budistas, livros de Dharma e cursos de meditação não surgem do nada, mas são o resultado do trabalho árduo e dedicação de muitas pessoas. Nossa oportunidade de ler, contemplar e meditar nos ensinamentos de Buda depende inteiramente da bondade dos outros. Além disso, como será explicado mais adiante, sem seres vivos com os quais possamos praticar generosidade, testar nossa paciência ou pelos quais possamos desenvolver compaixão, nunca conseguiríamos desenvolver as qualidades virtuosas necessárias à conquista da iluminação.
Em resumo, precisamos dos outros para o nosso bem-estar físico, emocional e espiritual. Sem os outros, não somos nada. Nossa impressão de que somos uma ilha, um indivíduo autossuficiente e independente, não possui relação alguma com a realidade. É mais próximo da verdade nos imaginarmos como uma célula no vasto corpo da vida – distintos, porém intimamente ligados a todos os seres vivos. Não podemos existir sem os outros, e eles, por sua vez, são afetados por tudo o que fazemos. A ideia de que é possível garantir nosso próprio bem-estar enquanto negligenciamos o bem-estar dos outros, ou até mesmo à custa deles, é completamente irrealista.
Contemplando as inúmeras maneiras pelas quais os outros nos ajudam, devemos tomar uma firme decisão: “Preciso apreciar todos os seres vivos, pois eles são muito bondosos comigo”. Com base nessa determinação, geramos um sentimento de apreço – uma sensação de que todos os seres vivos são importantes e de que a felicidade deles importa para nós.
Tentamos misturar, de modo estritamente focado, nossa mente com esse sentimento e o mantemos pelo maior tempo que conseguirmos, sem nos esquecer dele. Quando sairmos da meditação, devemos tentar manter essa mente de amor, de modo que, sempre que encontrarmos ou nos lembrarmos de alguém, naturalmente pensemos: “Essa pessoa é importante; a felicidade dessa pessoa importa para mim”. Desse modo, podemos tornar a prática de apreciar os seres vivos em nossa prática principal.
© Geshe Kelsang Gyatso & New Kadampa Tradition