Confiar num Guia Espiritual

Extraído do livro Grande Tesouro de Mérito por Venerável Geshe Kelsang Gyatso.

‘Todas as escolas de budismo concordam que a prática do Guru ioga, ou de confiar em um Guia Espiritual, é a raiz do caminho espiritual e o fundamento de todas as aquisições espirituais.

Podemos compreender isso partindo das nossas experiências comuns. Por exemplo, se quisermos adquirir habilidades especiais, tornarmo-nos exímios num determinado esporte ou aprender a tocar bem um instrumento musical, naturalmente iremos procurar um professor qualificado para nos dar instruções. Seguindo seu exemplo e aplicando sinceramente suas instruções, por fim, cumpriremos nosso objetivo e nos tornaremos como ele ou ela. Se até para conquistas mundanas como essas é necessário confiar em um professor qualificado, podemos imaginar quão mais necessário é isso para alcançarmos as aquisições espirituais como libertação ou iluminação!

No budismo, há duas correntes principais: o hinayana, ou veículo menor, e o mahayana, ou grande veículo; e a prática de confiar em um Guia Espiritual é fundamental para ambas.

De acordo com o hinayana, devemos considerar nosso Guia Espiritual como igual a um Buda e, com uma mente de fé e devoção, oferecer-lhe presentes e serviços e retribuir sua bondade seguindo seus conselhos e praticando suas instruções.

De acordo com o mahayana, contudo, devemos considerar nosso Guia Espiritual como um efetivo Buda e, com uma mente de fé, confiar nele sinceramente tanto em pensamentos como em atos.

Todo o treino espiritual, hinayana ou mahayana, do sutra ou do tantra, depende da orientação e das bênçãos de um Guia Espiritual qualificado.

Qualidades de um Guia Espiritual puro

Um Guia Espiritual puro precisa ter realizações espirituais autênticas, deter uma linhagem pura, apreciar o Budadharma e, com amor e compaixão, dar ensinamentos inequívocos a seus discípulos. Se encontrarmos um Guia Espiritual assim, devemos nos considerar muito afortunados. Devemos gerar fé e confiar sinceramente nele, ou nela, praticando com pureza aquilo que ensina.

Geshe Potawa disse que, se um discípulo puro encontrar um Guia Espiritual puro, ele facilmente alcançará a iluminação.

Nossa mente é como um campo, as instruções do nosso Guia Espiritual são como sementes plantadas nesse campo, e nossa fé no Guia Espiritual é como a água que faz germinar essas sementes. Se esses três fatores se juntarem, colheremos fácil e rapidamente as realizações de Dharma. Se não temos essas condições no momento atual, devemos rezar para encontrá-las no futuro.

Depois de encontrar um Guia Espiritual qualificado, o como confiar nele é muito simples. Tudo o que devemos fazer é gerar fé e pôr as suas instruções em prática da melhor maneira que pudermos. Se fizermos isso, nossas realizações de Dharma naturalmente vão crescer e rapidamente alcançaremos a iluminação.

Devemos considerar nosso Guia Espiritual como uma mãe que cuida de nós e nos aprecia, como um pai que provê tudo o que precisamos e nos protege contra perigos, como a lua que refresca o calor das delusões em nosso continuum mental, como o sol que dissipa a escuridão da ignorância da nossa mente e como um bondoso benfeitor que nos dá o presente inestimável do Dharma.

Encontrar um Guia Espiritual qualificado é infinitamente mais significativo que possuir riqueza exterior. Nosso Guia Espiritual é o nosso verdadeiro benfeitor. Ele nos provê com a riqueza interior de disciplina moral, concentração e sabedoria e, por fim, irá nos conduz ao êxtase supremo da plena iluminação.

Ainda que tenhamos uma vasta riqueza material, se nos faltar essas realizações interiores, na realidade seremos pobres. Por outro lado, confiando em um Guia Espiritual, se conseguirmos cultivar as realizações das etapas do caminho à iluminação em nosso continuum mental, seremos verdadeiramente ricos, ainda que não tenhamos posses materiais.

Portanto, não devemos nos preocupar com riqueza e progresso exteriores, mas investir toda nossa energia em confiar sinceramente num Guia Espiritual plenamente qualificado.’